quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Um pouco sobre sombras



A sombra se origina de uma deficiência local e relativa da luz visível. A luz é o fluxo de unidades de massa-energia emitidas por uma fonte de radiação, pelo sol ou por uma vela. As unidades de massa-energia, ou fótons, são excedentes de energia, o produto excedente de partículas menores que se combinam para converter-se em partículas maiores, e alguns desses fótons são mais energéticos do que outros. A luz visível consiste apenas de fótons no meio dessa cadeia de energia, que é representada em termos do pulso de distúrbio elétrico, ou comprimento de onda. Esses fótons de energia moderada são visíveis naquelas células da retina do olho que evoluíram para reagir a eles, do mesmo que não reagem àqueles de energia muito baixa; os de energia muito alta não são admitidos no olho interior. Pág.17
O comportamento de qualquer fóton particular é notoriamente imprevisível... seu comportamento é complexo e estranho porque isso implica um intricado intercâmbio com elétrons locais, e não apenas o simples salto ou a trajetória de um projétil do mundo do senso comum... os fótons tendem a tomar o caminho mais econômico em relação ao tempo. Em meios consistentes, como o ar puro ou a água, esse caminho é muitas vezes uma linha absolutamente reta; as complicações surgem nos meios complexos, como a atmosfera, e na confrontação entre meios, como a transição curva do ar para a água.
Alguns pontos mais sutis do comportamento dos fótons tornam-se manifestos de fato quando nos aprofundamos na morfologia e comportamento da sombra... Primeiro, os fótons muitas vezes favorecem trajetórias em linha reta. E, em segundo lugar, existem muitas estruturas moleculares através das quais sua energia não é transmitida como luz visível.
A sombra, portanto, é em primeiro lugar uma deficiência local, relativa, na quantidade de luz que incide sobre uma superfície, e é objetiva. Pág.18
No caso do primeiro tipo de sombra, aquele que é causado por um sólido interveniente entre uma superfície e a fonte de luz (como um nariz que impede a luz de alcançar o lábio superior), será empregado o termo sombra projetada; e quando uma luz projetada é lançada. No caso de uma superfície diferençável, ela será descrita como lançada. No caso do segundo tipo de sombra, sobre superfícies que ficam fora do alcance da luz (como sob a parte embaixo do nariz), o melhor termo será auto-sombra, que é o termo usado nos estudos de visão por computador. Quanto a sombreado, a palavra é de uso demasiado freqüente para não a empregarmos, e se houver algum risco de ambigüidade, pode-se qualificá-lo de sombreado obliquo/inclinado, sendo obliquo quando o ângulo é formado com o eixo vertical, e inclinado quando o ângulo é formado com o eixo horizontal. Pág.21
As fontes de luz variam em extensão, desde fontes que podem ser consideradas pontuais, passando por vários níveis de fonte estendida, até uma fonte nocionalmente não-direcional – admitindo-se infinitas reflexões de luz a partir das superfícies ambientes – chamada luz ambiente. As fontes pontuais produzem a sombra de borda mais marcada; a luz ambiente perfeita não produziria nenhuma.

Do livro Sombras e Luzes – Michael Baxandall – EdUsp – Coleção Texto e Arte 15 Introdução: Buracos Num Fluxo