A sombra se origina de uma deficiência local e relativa da luz
visível. A luz é o fluxo de unidades de massa-energia emitidas por
uma fonte de radiação, pelo sol ou por uma vela. As unidades de
massa-energia, ou fótons, são excedentes de energia, o produto
excedente de partículas menores que se combinam para converter-se em
partículas maiores, e alguns desses fótons são mais energéticos
do que outros. A luz visível consiste apenas de fótons no meio
dessa cadeia de energia, que é representada em termos do pulso de
distúrbio elétrico, ou comprimento de onda. Esses fótons de
energia moderada são visíveis naquelas células da retina do olho
que evoluíram para reagir a eles, do mesmo que não reagem àqueles
de energia muito baixa; os de energia muito alta não são admitidos
no olho interior. Pág.17
O comportamento de qualquer fóton particular é notoriamente
imprevisível... seu comportamento é complexo e estranho porque isso
implica um intricado intercâmbio com elétrons locais, e não apenas
o simples salto ou a trajetória de um projétil do mundo do senso
comum... os fótons tendem a tomar o caminho mais econômico em
relação ao tempo. Em meios consistentes, como o ar puro ou a água,
esse caminho é muitas vezes uma linha absolutamente reta; as
complicações surgem nos meios complexos, como a atmosfera, e na
confrontação entre meios, como a transição curva do ar para a
água.
Alguns pontos mais sutis do comportamento dos fótons tornam-se
manifestos de fato quando nos aprofundamos na morfologia e
comportamento da sombra... Primeiro, os fótons muitas vezes
favorecem trajetórias em linha reta. E, em segundo lugar, existem
muitas estruturas moleculares através das quais sua energia não é
transmitida como luz visível.
A sombra, portanto, é em primeiro lugar uma deficiência local,
relativa, na quantidade de luz que incide sobre uma superfície, e é
objetiva. Pág.18
No caso do primeiro tipo de sombra, aquele que é causado por um
sólido interveniente entre uma superfície e a fonte de luz (como um
nariz que impede a luz de alcançar o lábio superior), será
empregado o termo sombra projetada; e quando uma luz projetada é
lançada. No caso de uma superfície diferençável, ela será
descrita como lançada. No caso do segundo tipo de sombra, sobre
superfícies que ficam fora do alcance da luz (como sob a parte
embaixo do nariz), o melhor termo será auto-sombra, que é o termo
usado nos estudos de visão por computador. Quanto a sombreado, a
palavra é de uso demasiado freqüente para não a empregarmos, e se
houver algum risco de ambigüidade, pode-se qualificá-lo de
sombreado obliquo/inclinado, sendo obliquo quando o ângulo é
formado com o eixo vertical, e inclinado quando o ângulo é formado
com o eixo horizontal. Pág.21
As fontes de luz variam em extensão, desde fontes que podem ser
consideradas pontuais, passando por vários níveis de fonte
estendida, até uma fonte nocionalmente não-direcional –
admitindo-se infinitas reflexões de luz a partir das superfícies
ambientes – chamada luz ambiente. As fontes pontuais produzem a
sombra de borda mais marcada; a luz ambiente perfeita não produziria
nenhuma.
Do livro Sombras e Luzes – Michael Baxandall – EdUsp – Coleção Texto e Arte 15 Introdução: Buracos Num Fluxo
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