sábado, 18 de dezembro de 2010

Série Imersão - Técnicas de Edição para Cinema e Vídeo parte 1

         Dando continuidade a Série Imersão, com o livro Técnicas de Edição para Cinema e Vídeo – História, Teoria e Prática de Ken Dancyger.
        O livro é grande, por isso, irei mostrar apenas o capitulo I, até o item 10 (Novos desafios às convenções do filme narrativo. O que já vai ser um trabalhão.
         Ai vai:

Introdução à quarta edição
         “Primeiro é preciso considerar a revolução digital. A tecnologia transformou a tecnologia da montagem, a velocidade da montagem e, conceitualmente, a estética da montagem. Tanto na produção quanto na pós-produção, a revolução digital teve um impacto no som e na imagem...
          … Na era digital, quando uma imagem pode ser melhorada, alterada para parecer real, o que é real e o que irreal? Que realidade determina as escolhas da montagem? O filme documentário cada vez mais se mescla com valores de entretenimento, assim como o filme dramático brinca com os valores do documentário. Quando os formatos didáticos e de entretenimento adaptam os valores um do outro, como isso influencia a escolha da montagem?

Introdução
Ponto de Vista
           Descreve a perspectiva de abordagem do livro:
          “Este pretende ser prático no sentido em que montar uma sequencia de ação requer uma apreciação sobre como cada elemento fílmico é necessário para fazer a sequencia funcionar...
Uma observação final: adotando o ponto de vista do diretor, sugiro, como Reisz fez, que a montagem é crucial na evolução criativa do filme. Essa perspectiva me permite examinar a história da teoria e da montagem.”
pag. XVI

Termos
           O autor também qualifica divisões nos termos: aspectos técnicos, habilidade e arte.
           “Técnica ou aspecto técnico da montagem é a junção física de dois diferentes trechos de filme. Quando juntos, os dois trechos se transformam em uma sequencia que tem um sentido particular.
             A habilidade da montagem é a junção de dois trechos de filme para produzir um sentido que não é aparente em um ou em outro plano. O sentido que nasce dos dois planos pode ser a continuidade da caminhada (saída pela direita do plano um e entrada pela esquerda do plano dois), ou o sentido pode ser uma explicação ou uma exclamação. A interpretação do espectador fica mais clara à medida que o editor pratica sua habilidade.
            E sobre a arte?... A arte da montagem acontece quando a combinação de dois ou mais planos leva o sentido para outro nivel – excitação, discernimento, choque ou a epifania da descoberta.”
pag. XVII

O Papel do Documentário e do Filme Experimental
          “Essas inovações na montagem visual e na trilha sonora aconteceram mais livremente no documentário e no filme experimental do que no cinema comercial. O filme experimental, por exemplo, não é produzido sob o escrutínio da consideração comercial. Documentários, que supostamente cumprem uma agenda didática, continuam a ser financiados por governos e organizações. Como o lucro tem uma importância menor no documentário e nos filmes experimentais, o resultado é a inovação criativa.” pag. XVIII

O Papel da Tecnologia
           “... tecnologia e criatividade não se excluem mutuamente. Tecnologia não é necessariamente utilizada com criatividade, mas, nas mãos certas, pode ser. A tecnologia tem um papel fundamental no formato do filme, mas é apenas um instrumento nas mãos dos artistas que dedicam suas ideias ao meio.” pag. XVIII-XIX

O Papel do Montador
           “... trabalho de realização funciona melhor quando a contribuição de cada um é acrescentada à totalidade da experiencia do filme....
            O papel fundamental do montador, no entanto, acontece na fase de pós-produção. Com a produção completa, som e música são acrescentados nessa fase, assim como os efeitos especiais. Independente do tamanho do filme, o montador deve achar um ritmo... O processo de eliminação de cenas é uma procura intuitiva por clareza e dinamismo. O filme deve falar para os mais variados públicos. Som, efeitos sonoros e músicas são todos acrescentados nessa fase.” pag. XIX
           “Os objetivos dos montadores são precisos: encontrar a continuidade narrativa para a imagem e o som do filme, e refinar os planos visuais e sonoros que criarão a ênfase dramática para que o filme funcione. Ao escolher justaposições especificas, os montadores também podem mudar o significado original alterando as justaposições dos planos.
            Um montador é bem-sucedido quando a plateia gosta da história e se esquece da justaposição de planos. Se o espectador consegue perceber a montagem, o montador falhou.
           … As escolhas da montagem variam da continua apresentação do material à alteração de sentido do mesmo material. Montadores também têm a oportunidade de mostrar o material da maneira mais emocional possível. A emoção por si mesma forma, cada vez mais, o sentido.
            O perigo, então, é abusar desse poder. Os padrões éticos ou a moral pessoal é o principio orientador para todos que trabalham no cinema e na televisão.”
pag. XX

Capitulo I – História da Montagem
1 – O Período Mudo
           “O que é surpreendente sobre o período mudo é que os princípios da montagem clássica foram desenvolvidos em apenas 30 anos. No entanto, no nascimento do cinema, a continuidade, o trabalho da direção e a ênfase dramática em sua relação com a montagem não eram sequer considerados. As câmeras eram posicionadas sem qualquer relação com a composição da imagem ou com a emoção. A iluminação não obedecia a nenhuma intenção dramática.
          … A câmera estava sempre parada e distante da ação. Não havia variação na duração dos planos a fim de provocar impacto. O fundamental era a atuação e não o ritmo... Apenas com o trabalho de Edwim S. Porter, a montagem passou a ter uma finalidade narrativa.”
pag. 3-4

Edwin S. Porter: o inicio da continuidade fílmica
        “O principal ano da obra de Porter foi 1903. Nesse ano, ele começou a utilizar uma continuidade visual que tornava seus filmes mais dinâmicos. Com o mesmo objetivo, Méliès havia usado recursos teatrais e um divertido senso de fantasia...
           A vida de um bombeiro americano (1903), de Porter, é composto por 20 planos...
          … Na versão que circulou entre 1944 e 1985, as cenas interiores eram intercaladas com as cenas documentais exteriores fez a historia do resgate parecer mais dinâmica. O crescimento da tensão a partir da alternância de planos foi complementado pela inclusão do plano de uma mão puxando uma alavanca de alarme de incêndio.
          A inclusão das cenas documentais trouxe um sentido de autenticidade para o filme. Ela também sugeria que dois planos filmados em lugares diferentes, com diferentes objetivos, podiam, quando unidos, significar algo maior do que a mera soma de duas partes. A justaposição podia criar uma nova realidade, maior do que a de cada plano.” pag. 4
        “Porter apresentou uma narrativa ainda mais sofisticada, no final de 1903, com O grande roubo do trem. O filme, com duração de 12 minutos, conta a historia do assalto a um trem e o consequente destino dos ladrões...
          Não há continuidade entre planos, mas há mudanças de locações e de tempo...
         Cada plano apresenta uma cena: o roubo, a fuga, a perseguição, a captura. Nenhum plano individual registra uma ação do inicio ao fim. O público entra ou sai de um plano em meio à ação. Aqui está a explicação para as mudanças de tempo e de locações. Para os propósitos da narrativa, não é necessário ver toda a ação para entender a finalidade do plano. Entrar em uma cena já começada sugere que o tempo passou. Sair da cena antes de a ação terminar e passar para outra ação sugere a mudança de locação. Assim, as mudanças de tempo e espaço ocorrem, e a narrativa permanece clara. O sentido global da história vem do conjunto das imagens, com as mudanças de tempo ou lugar sendo sugeridas pela justaposição de planos.
         … A contribuição de Porter para a montagem foi a organização dos planos a fim de apresentar uma narrativa.”
pag. 5

D.W. Griffith: a construção dramática
        “D. W. Griffith é conhecido como o pai da montagem cinematográfica no sentido moderno... Sua contribuição abrange toda uma grama de procedimentos: a variação de planos para criar impacto, incluindo o grande plano geral, o close-up, inserts e o travelling, a montagem paralela e as variações de ritmo... Griffith nos ensinou, mais do que seu antecessor, a criar um maior impacto dramático por meio da justaposição de planos.” pag. 5
        “Começando com a tentativa de mover a câmera para mais perto da ação em 1908, Griffith continuaria experimentando a fragmentação de cenas. Em The Greaser's Gauntlet (1908), ele corta de um plano geral de uma árvore usada para enforcamentos... para um plano fechado do homem agradecendo à mulher. Por meio do corte continuo, o público entra na cena em um instante de forte emoção. Não apenas sentimos o que o personagem sente, mas toda a cena fica mais dinâmica devido ao corte, e o público sente-se mais próximo da ação que acontece na tela.” pag. 6
       “Em Enoch Arden (1908), Griffith coloca a câmera ainda mais perto da ação... Griffith demonstrou que a cena pode ser fragmentada em planos gerais, planos médios e planos próximos para permitir que o público entre gradualmente na sua emoção...
No mesmo filme, Griffith corta de um plano da esposa para um plano de seu marido longe de casa. Os pensamentos da mulher transformam-se em imagens, e Griffith faz uma série de intercalações de planos da esposa e do marido. O insert serve para introduzir o novo elemento dramático: o marido.” pag. 6-7
       “Em 1909, Griffith desenvolve a ideia da montagem paralela em The Lonely Villa, a historia de um resgate... Nesse filme, Griffith constrói as cenas usando planos cada vez mais curtos para aumentar a dramaticidade. O suspense é forte, e o resgate, catártico. A intercalação de cenas também soluciona o problema do tempo, pois não é necessário apresentar ações completas para alcançar o realismo... O tempo dramático passa a substituir o tempo real como critério para a montagem.
       Outras inovações se seguiram. Em Ramona (1911), Griffith utilizou o grande plano geral para destacar a qualidade épica da terra e valorizar a importância da luta dos habitantes. Em The Lonedale Operator (1911), ele colocou a câmera em um trem em movimento. As imagens foram intercaladas com os planos do prisioneiro aguardando ser resgatado pelo maquinista do trem, aumentando a intensidade dramático da sequencia. Finalmente, Griffith começa fazer experimentações com a duração dos filmes... seu filme longo: Judith of Bethulia (1913)... Griffith alcançou uma sofisticação de montagem nunca vista antes na tela.” pag.7
       O nascimento de uma nação não é apenas um épico sobre a história da Guerra Civil, mas também a tentativa de, em duas horas e meia, contar na forma do melodrama a história de duas famílias: uma do Sul e outra do Norte. O destino delas é o destino da nação.
       … são notáveis as cenas de batalha e das famílias. As cenas dos Cameron e dos Stonemam são calorosas e íntimas, em comparação com a qualidade épica das cenas de batalha... Nas cenas familiares, por exemplo, o filme mostra dois gatos brigando. Um é preto e outro é cinza. A briga é um prenúncio de batalhas maiores que envolveram os Yankees (os azuis) e os Confederados (os cinzas). O plano é simples, mas é esse tipo de detalhe que relaciona uma sequencia à outra.” pag.8
       “O lírio partido é uma simples história de amor que acontece em Londers...
       … No porto, o pretendente tem uma loja para onde leva a jovem. Enquanto isso, Battler luta no ringue. Griffith intercala cenas idílicas do pretendente cuidando da jovem com Battler espancando seu adversário. A montagem paralela revela a visão de Griffith de duas culturas: gentileza e brutalidade...
       … Aqui, Griffith intercala três espaços: o armário (onde a assustada jovem está escondido), a sala (onde o agressivo Battler ataca a filha) e o quarto do chinês (encontrado todo destruído)... O medo da mulher é insuportável. Griffith corta para dois primeiros planos subjetivos: um da jovem e outro de Battler...
       Horror e Beleza em O lírio partido são transmitidos cuidadosamente para articular cada sentimento. Todas as ferramentas da montagem griffithiana aparecem: close-up, inserts, câmera subjetiva... Essa foi a herança de Griffith; por meio de seu trabalho, a montagem e a construção dramática do filme tornaram-se uma só.”
pag.14

      Edwin S. Porter nos ensinou que a justaposição podia criar uma nova realidade, a continuidade fílmica.
     Ritmo, montagem paralela, travelling, close up, câmera subjetiva, tempo dramático, variação de enquadramento e construção dramática foram feitos de Griffith.
     Para assistir alguns desses filmes:
                                                      Griffith: http://migre.me/32sw0
                                                      Edwin S. Porter: http://migre.me/32su2
                                                      Cinema mudo: http://migre.me/32u1Q
     Por enquanto é só. Mas está apenas começando.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Plano Nacional de Cultura PNC - Sergio Mambert

No sábado, 27 de novembro de 2010, tivemos em São Vicente a visita de Sergio Mambert, representante do Ministério da Cultura. Na pauta: Implantação do Plano Nacional de Cultura PNC.
É de grande importância a difusão da proposta de reestruturação social e cultural que dispõe no PNC. Entre outras coisas, as mudanças estão na criação do Fórum de Cultura, Conselho de Cultura, Fundo de Cultura, Lei de Incentivo a Cultura, Comissão de Cultura Legislativa, Secretaria de Cultura. Tanto na estância Federal, como também, nas estaduais e municipais.
As expectativas dos produtores sobre o PNC são muitas e boas.
Confira trechos da palestra de Sergio Mambert pelo video:

http://www.youtube.com/grupomundocultural#p/a/u/0/fZnZGUBP6bQ

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Série Imersão - Num Piscar de Olhos parte 3

Terceira parte da Série Imersão, separei os principais pontos, na minha opinião, e transcrevi aqui. Com alguns pitacos meus, mas não muito.
Tenho por finalidade fazer isso com diversos livros.
Última parte:

O que faz do corte um “bom corte”?
Walter Murch nos descreve 6 critérios importes para edição:

            “O que você quer que público sinta? Se ele sente exatamente o que você queria durante todo o filme, você fez o máximo que poderia fazer. O que será lembrado não será a edição, a câmera, as atuações ou mesmo o enredo, mas como o publico sentiu isso.
            O corte ideal (para mim) obedece simultaneamente aos seis critérios que se seguem:
1) reflete a emoção do momento;
2) faz o enredo avançar;
3) acontece no momento “certo”, dá ritmo;
4) respeita o que podemos chamar de “alvo de imagem”(eye trace) – a preocupação com o foco de interesse do espectador e sua movimentação dentro do quadro;
5) respeita a “planaridade” – a gramática das três dimensões transpostas para duas pela fotografia (a questão da linha de eixo, stage-line, etc.) e; 
6) respeita a continuidade tridimensional do próprio espaço (onde as pessoas estão na sala e em relação umas com as outras).” Pag28-29

“Por exemplo, se você está considerando um leque de possíveis cortes para um momento particular do filme e descobre que determinado corte transmite a emoção certa e faz o enredo avançar e é satisfatório ritmicamente e respeita o alvo de imagem e a dimensão dos planos, mas quebra a continuidade do espaço tridimensional, este é, certamente, o corte que deve ser feito. Se nenhum dos outros cortes transmite a emoção certa, vale mais a pena sacrificar a continuidade espacial.” Pag 29-30
“Na maioria das vezes consegue-se satisfazer aos seis critérios: espaço tridimensional, plano bidimensional da tela, linha do olhar, ritmo, enredo e emoção vão se acomodar. Esse, é claro, é o objetivo sempre que possível – nunca aceite menos quando é possível conseguir mais.
O que estou sugerindo é uma escala de prioridades.” Pag31

Coloque-se sempre no lugar do público.

“Reforçando essas considerações está o que deveria ser a principal preocupação de um diretor: colocar-se no lugar do público. O que o público estará pensando em determinado momento? Para onde irá olhar? O que você quer que ele pense? Em que precisa pensar? E, é claro, o que você quer que ele sinta?”


Foco na tela

            “Se o editor esteve no set a maior parte do tempo – como estiveram os atores, o produtor, o diretor, o câmera, o diretor de arte etc. – pode se deixar envolver pelos aspectos práticos “sangrentos” da “gestação” e do “parto”. Quando, então, assiste ao copião, não consegue deixar de ver, com o olho da mente, o que extrapola os limites do quadro...
            “Trabalhamos pra caramba para filmar essa cena, ela tem que estar no filme!”
            {Ou}... quando todos estavam de mal humor, e dizer sob protestos: “Tudo bem, vamos fazer isso, pega esse close e papo encerrado” Tempos depois, ao olhar para a cena, só consegue lembrar do péssimo momento em que foi filmada. Nesse caso, pode deixar de ver o potencial da cena em outro contexto.
            O editor, no entanto, deve tentar ver apenas o que está na tela, assim como o público o fará... Mantendo o foco na tela...” pag34-35

O prioridade do editor é:

“... o editor tem de fato a responsabilidade de juntar as imagens (dizer, as “palavras”) numa certa ordem e num certo ritmo.” Pag37

Espero ter contribuido para seu desenvolvimento. Mas, lembre-se, NADA COMO LER O ORIGINAL.
Edgar Moura em seu livro fala sobre isso. Ninguém pode conhecer Platão como eu conheço, li o original.
Leia!

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Série Imersão – Livro Num Piscar de Olhos parte 2

Aqui está a segunda parte da Série Imersão – Livro Num Piscar de Olhos, A edição de filmes sob a ótica de um mestre do autor Walter Murch.

A edição é muito mais que tirar os pedaços ruins.

“Edição é a estrutura, a cor, a dinâmica, a manipulação do tempo...”
“Porque, de certa forma, editar é mesmo cortar os pedaços ruins; o problema é: o que é um pedaço ruim?... O objetivo de um vídeo caseiro em geral é muito simples: uma gravação desordenada de eventos em tempo continuo. O objetivo dos filmes de narrativa é muito mais complexo, tanto pela estrutura de tempo fragmentada como pela necessidade de reproduzir estados de espírito, de modo que se torna proporcionalmente mais complicado identificar o que é um “pedaço ruim”. E o que é ruim em um filme pode ser bom em outro... Assim, o editor empenha-se na busca para identificar esses pedaços e cortá-los fora, cuidando para que ao fazê-lo, não destrua e estrutura dos “pedaços bons” restantes.” Pag22-23

Se dois editores diferentes pegarem o mesmo material gravado para editarem, cada um fará um filme diferente. Porque cada um fará escolhas diferentes de como estruturá-los – como e em que ordem soltar as informações.

“Um exemplo: sabemos que a arma está carregada antes de Madame X entrar em seu carro ou só ficamos sabendo disso depois que ela está no carro? Cada escolha cria um sentido diferente para a cena. E ao proceder assim vamos empilhando uma diferença em cima da outra.” Pag24
“O principio básico é fazer o máximo com o mínimo (com ênfase no tentar). Você pode não conseguir sempre, mas tente produzir os maiores efeitos na cabeça do espectador com o menor numero de coisas na tela. Por quê? Porque você quer fazer apenas o necessário para conquistar a imaginação do público – a sugestão é sempre mais eficiente que a exposição.” Pag26

Para se fazer mais com o minimo é necessário termos um minimo de vontade de maximizar a pesquisa, o planejamento, a organização e a reorganização.

“É preciso mais trabalho e mais discernimento para decidir onde não cortar.” Pag26
Deve-se ter o discernimento de não exagerar na condução das informações, devemos destinar momentos de maior intensidade narrativa, e outros não, dando um “respiro” a mente dos espectadores.

“Se o guia, isto é, o editor não estiver suficientemente seguro para deixar que, de vez em quando, as pessoas escolham o que querem ver, ou para deixar algumas coisas a cargo da imaginação delas, ele estará fracassando. Em algum momento as pessoas se sentirão manipuladas e ficarão ressentidas com a pressão das mãos atrás de suas cabeças.” Pag27

Bom. É isso. A segunda parte, de três.
Na próxima e última parte mostrarei o que Walter Murch tem a nos dizer sobre o que é um bom corte e a influencia negativa das gravações que podem prejudicar a escolha do corte. Essa é a melhor parte.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Série Imersão - Livro: Num Piscar de Olhos – Autor: Walter Murch P1

            Olá, iniciarei este blog com a Série Imersão. Na série tenho como objetivo entrar nos livros e trazer à esta superfície as partes fundamentais.
            Começo com o livro sobre edição cinematográfica Num Piscar de Olhos - A edição de filmes sob a ótica de um mestre de Walter Murch. trabalhou, entre outros, no famoso filme Apocalipse Now. Então, começarei mostrando o que o autor tem a dizer sobre essa experiencia.


O autor explica sobre a demora , ou busca do corte ideal, na edição do filme Apocalipse Now:

            “Um dos motivos dessa demora foi simplesmente a quantidade de material filmado: 1.250.000 pés, o que significa um pouco mais de 230 horas. O filme pronto tem 2 horas e 25 minutos de duração, portanto, temos aí uma escala de 95 para 1... A titulo de comparação, a média em filmes comerciais é de 20 para 1.” Pag. 14
            “Transitar por esse universo de 95 para 1 era como avançar lentamente por uma floresta densa, encontrar algumas clareiras, parar, e em seguida penetrar de novo na mata.” Pag14


Por isso, senhores cinegrafistas, gravem (ou filmem) com consciência e precisão.

 “... o trabalho de edição não é tanto o de colar pedaços, mas muito mais o de achar o caminho, de modo que um editor gasta muito pouco tempo cortando e colando. Obviamente, quanto mais material houver para trabalhar, mais alternativas tem de ser consideradas, uma vez que um maior leque de opções exige naturalmente mais tempo de considerações.” Pag15-16          

Quando um editor tem sorte? Quando tem opções.

            “Para cada corte no filme finalizado, houve provavelmente 15 falsos cortes-cortes feitos, considerados e depois desfeitos ou retirados do filme. Mesmo assim restaram 11 horas e 58 minutos diárias dedicadas às atividades que, das mais diversas maneiras, serviram para clarear e iluminar o caminho à nossa frente: projetar, discutir, rebobinar, projetar de novo, reunir, elaborar cronogramas, fazer reajustes, tomar notas, catalogar, além de refletir muito. Um trabalho enorme de preparação para chegar ao breve momento da ação decisiva: o corte – o momento de transição de um plano para o seguinte – algo que, por definição, devia, por si só, parecer simples e feito sem esforço.” Pag16

Qualquer filme ou vídeo é uma construção, um arranjo narrativo revelador de sua verdade interna. Essa construção é feita através do corte, a junção de pedaços diferentes de filme ou vídeo, formando um novo filme estruturado. Segundo a teoria da imagem: uma coisa.

            “O intrigante é que a junção desses pedaços – o “corte” [cut], na terminologia americana – parece realmente funcionar, mesmo representando um total e instantâneo deslocamento de um campo de visão para outro (deslocamento este que, as vezes, acarreta para frente ou para trás não só no espaço, como também no tempo).” Pag17

Apesar de haver poucos cortes nas imagens percebidas com o olhar a nossa mente é editada, segmentada, direcionada, emocionante, e metalinguistica. Assim como a edição de um filme. A linguagem da edição é a extensão da mente humana.

            “... do momento em que acordamos de manhã até fecharmos os olhos à noite a realidade visual que percebemos é um fluxo continuo de imagens interligadas... Então, de repente, no começo do século XX, os seres humanos foram confrontados com algo diferente: o filme editado.”
            “... quando o deslocamento visual é suficientemente grande (como no momento do corte), somos forçados a reavaliar a nova imagem como um contexto diferente. Milagrosamente, na maioria das vezes, não temos dificuldade em fazê-lo.
O que nos parece difícil de aceitar são os deslocamentos que não são nem sutis nem gritantes: por exemplo, o corte de um plano de corpo inteiro para outro um pouco menor em que os atores estão enquadrados do tornozelo para cima. Neste caso, o novo plano é diferente o bastante para assinalar que mudou, mas não o suficiente para nos fazer reavaliar o seu contexto. O deslocamento da imagem não é continuo, mas também não é uma mudança de contexto. A colisão dessas duas idéias produz uma confusão mental – um pulo – que, comparativamente, torna-se um incômodo.” Pag18
            “... a descontinuidade também nos permite escolher o melhor ângulo da câmera para cada emoção e para cada momento da historia, e esses planos, quando editados, provocarão um impacto crescente.” Pag20

            “... cortar é mais que um método conveniente de tornar continua a descontinuidade. É, em si,... uma influencia positiva na criação de um filme.” Pag21

Bom. É isso. A primeira parte, de três, deste livro.
Na segunda parte mostrarei que a edição é muito mais que tirar os pedaços ruins.
Espero que todos se sintam a vontade para expressar suas certezas e dúvidas.
Diga não a Censura, começando por si mesmo.

Danilo Tavares
@iculto_digital