sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Documentário: um tratamento criativo da realidade - 2

Segunda parte do texto Documentário: um tratamento criativo da realidade 


Pelos labirintos de um personagem real

O documentário se interessará por pessoas que tenham algo a revelar de subjetivo. Assim, na frente da câmera, mesmo no filme documentário, registramos personagens. A própria presença da câmera e da equipe de filmagem do documentário faz com que a pessoa se torne personagem.
Em filmes em que se escondeu a filmagem, os personagens não representaram para a câmera, mas foram igualmente criados, pois foram enquadrados através do olho da câmera.
As pessoas, no seu dia a dia, sempre estão representando um ou outro personagem inventado, para si próprias. Porém o personagem natural(real) interpreta de modo diferente do que um ator na frente da câmera.
O ator é técnico, há uma técnica a serviço da estética.
O personagem natural é intuitivo, e o próprio na maioria das vezes nem percebe que está interpretando.
Um personagem bem trabalhado no documentário mostra-se repleto de contradições, silêncios, expressões faciais, o olhar, sentimentos, variações vocais, sub textos etc.
        "O perturbador é justamente encontrar no latifúndio, no ditador, no monstro, aquilo que o aproxima de nós. A complexidade, para mim, está nisso, diz Coutinho, e não na outra frase ‘de perto ninguém é normal’. ‘De perto todo mundo é normal’ é tentar encontrar as semelhanças por baixo das diferenças’". (Lins, 2004, p. 23).
Como uma das coisas mais importantes que o documentarista tem a fazer é abster-se de aderir ou julgar seus representados, será tudo uma questão de escolhas narrativas.
Os personagens do documentário são pessoas reais, com existências reais, uma vida fora do cinema. Acabam tornando-se personagens através de todo um processo de pesquisa, roteirização, gravação, com sua participação reduzida na edição em alguns minutos e até segundos.
Continuam a viver depois do filme, e a imagem que se produz delas pode afetá-las, para o bem ou para o mal.
Estabelecer uma relação de confiança com a pessoa entrevistada baseada em um comportamento ético e no compromisso de construir um filme, uma narrativa, que não distorça as falas ditas.

Há liberdade, na edição para documentário

       Tanto na edição de sequências dramáticas quanto nas sequências de documentário, ambas devem ser desenvolvidas por certas regras cinematográficas de montagem para se comunicar com o público. Além dessa semelhança, as diferenças são muito importantes.
         A diferença fundamental entre a edição de ficção e de documentário é, que na ficção trata-se do desenvolvimento de uma trama e no documentário trata-se da exposição e/ou discussão de um tema, e, dessa diferença nascem os métodos variados de produção.
       A produção de um filme dramático é muito mais controlada e definida do que no documentário. A historia é dividida em cenas, sequências e planos com quase tudo definido: luzes, enquadramentos, movimentos, diálogos, cenários etc. Na edição, já pré-formatada, colocam-se os planos juntos, determinando a ordem e o ritmo para que a trama seja mais bem contada.
       A tendência é de o realizador de documentários buscar desenvolver filmes sobre pessoas reais, em situações reais, fazendo o que elas realmente fazem. E através da exposição do real desenvolver temas, discussões, observações, sensações e saberes.
O filme documentário só é formatado na edição. Sendo assim, o editor tem uma função crucial e criativa. A edição será feita conforme os objetivos do documentário e a qualidade do material captado, dando mais liberdade do que no filme dramático.



Texto completo para download: http://pontoporponto.org.br/metaorganico/tratamento-criativo-do-real.pdf

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