terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Série Imersão - Livro: Num Piscar de Olhos – Autor: Walter Murch P1

            Olá, iniciarei este blog com a Série Imersão. Na série tenho como objetivo entrar nos livros e trazer à esta superfície as partes fundamentais.
            Começo com o livro sobre edição cinematográfica Num Piscar de Olhos - A edição de filmes sob a ótica de um mestre de Walter Murch. trabalhou, entre outros, no famoso filme Apocalipse Now. Então, começarei mostrando o que o autor tem a dizer sobre essa experiencia.


O autor explica sobre a demora , ou busca do corte ideal, na edição do filme Apocalipse Now:

            “Um dos motivos dessa demora foi simplesmente a quantidade de material filmado: 1.250.000 pés, o que significa um pouco mais de 230 horas. O filme pronto tem 2 horas e 25 minutos de duração, portanto, temos aí uma escala de 95 para 1... A titulo de comparação, a média em filmes comerciais é de 20 para 1.” Pag. 14
            “Transitar por esse universo de 95 para 1 era como avançar lentamente por uma floresta densa, encontrar algumas clareiras, parar, e em seguida penetrar de novo na mata.” Pag14


Por isso, senhores cinegrafistas, gravem (ou filmem) com consciência e precisão.

 “... o trabalho de edição não é tanto o de colar pedaços, mas muito mais o de achar o caminho, de modo que um editor gasta muito pouco tempo cortando e colando. Obviamente, quanto mais material houver para trabalhar, mais alternativas tem de ser consideradas, uma vez que um maior leque de opções exige naturalmente mais tempo de considerações.” Pag15-16          

Quando um editor tem sorte? Quando tem opções.

            “Para cada corte no filme finalizado, houve provavelmente 15 falsos cortes-cortes feitos, considerados e depois desfeitos ou retirados do filme. Mesmo assim restaram 11 horas e 58 minutos diárias dedicadas às atividades que, das mais diversas maneiras, serviram para clarear e iluminar o caminho à nossa frente: projetar, discutir, rebobinar, projetar de novo, reunir, elaborar cronogramas, fazer reajustes, tomar notas, catalogar, além de refletir muito. Um trabalho enorme de preparação para chegar ao breve momento da ação decisiva: o corte – o momento de transição de um plano para o seguinte – algo que, por definição, devia, por si só, parecer simples e feito sem esforço.” Pag16

Qualquer filme ou vídeo é uma construção, um arranjo narrativo revelador de sua verdade interna. Essa construção é feita através do corte, a junção de pedaços diferentes de filme ou vídeo, formando um novo filme estruturado. Segundo a teoria da imagem: uma coisa.

            “O intrigante é que a junção desses pedaços – o “corte” [cut], na terminologia americana – parece realmente funcionar, mesmo representando um total e instantâneo deslocamento de um campo de visão para outro (deslocamento este que, as vezes, acarreta para frente ou para trás não só no espaço, como também no tempo).” Pag17

Apesar de haver poucos cortes nas imagens percebidas com o olhar a nossa mente é editada, segmentada, direcionada, emocionante, e metalinguistica. Assim como a edição de um filme. A linguagem da edição é a extensão da mente humana.

            “... do momento em que acordamos de manhã até fecharmos os olhos à noite a realidade visual que percebemos é um fluxo continuo de imagens interligadas... Então, de repente, no começo do século XX, os seres humanos foram confrontados com algo diferente: o filme editado.”
            “... quando o deslocamento visual é suficientemente grande (como no momento do corte), somos forçados a reavaliar a nova imagem como um contexto diferente. Milagrosamente, na maioria das vezes, não temos dificuldade em fazê-lo.
O que nos parece difícil de aceitar são os deslocamentos que não são nem sutis nem gritantes: por exemplo, o corte de um plano de corpo inteiro para outro um pouco menor em que os atores estão enquadrados do tornozelo para cima. Neste caso, o novo plano é diferente o bastante para assinalar que mudou, mas não o suficiente para nos fazer reavaliar o seu contexto. O deslocamento da imagem não é continuo, mas também não é uma mudança de contexto. A colisão dessas duas idéias produz uma confusão mental – um pulo – que, comparativamente, torna-se um incômodo.” Pag18
            “... a descontinuidade também nos permite escolher o melhor ângulo da câmera para cada emoção e para cada momento da historia, e esses planos, quando editados, provocarão um impacto crescente.” Pag20

            “... cortar é mais que um método conveniente de tornar continua a descontinuidade. É, em si,... uma influencia positiva na criação de um filme.” Pag21

Bom. É isso. A primeira parte, de três, deste livro.
Na segunda parte mostrarei que a edição é muito mais que tirar os pedaços ruins.
Espero que todos se sintam a vontade para expressar suas certezas e dúvidas.
Diga não a Censura, começando por si mesmo.

Danilo Tavares
@iculto_digital

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